A história do relógio de cuco e o Museu dos Relógios, na Alemanha.

Comprei o maior. É lindo e…não é muito barato.. Mas vale a pena ter um em casa.

Cuco-canoro é uma ave trepadeira, parasita, o que significa que ao invés de construir seu próprio ninho, o pássaro deposita seus ovos no ninho de outras aves. As hospedeiras dos ovos do cuco ficam com a tarefa de cuidar do filhote até ele ser independente. O cuco é uma ave que migra conforme a sua reprodução e mudanças climáticas: invernam na África e reproduzem-se na Europa. Seu nome é onomatopaico, ou seja, deriva do canto do macho ser composto por duas notas, que soam como “cu-co”.

O relógio de cuco surgiu no século XVII. Nesta época os relógios eram simples, feitos de madeira e com apenas um ponteiro das horas, era comum não informarem a hora certa. Eram produzidos pelos camponeses para conseguirem uma pequena renda extra. A princípio os relógios de cuco eram usados apenas para decoração.

Com o tempo começaram a aparecer relojoeiros especializados. A técnica foi melhorada com a contribuição de carpinteiros. A partir do século XVIII a produção ganhou uma maior proporção. Quanto à estética, os relógios ganharam diferentes formas, foram ficando mais redondos, entalhados e pintados artisticamente.

Nesta época o suíço Franz Ketterer criou um relógio que reproduzia o canto dos pássaros através de pequenas flautas que funcionavam com foles. Até então não era o canto do cuco que aparecia a cada hora através da porta. O canto do cuco só começou a ser usado no século XIX. Graças ao sucesso mundial, a produção se expandiu e em 1850 foi criada a escola de criação de relógios, dois anos mais tarde foi criado o Museu dos Relógios, na cidade de Furtwangen, na Alemanha

No Museu está reunido o mais completo acervo de relógios. São quase oito mil modelos. Uma verdadeira viagem no tempo. O Museu atrai muita gente, principalmente gente da França e da Suíça, pois Furtwangen fica a apenas 1 hora de distância da fronteira da Alemanha com esses países. A cidade é pequena, tem população de cerca de 10 mil habitantes e fica na região chamada de Floresta Negra, no sudoeste da Alemanha. Essa região tem tradição na produção de relógios, em especial dos relógios cuco, por isso existe o Museu.

Em uma das salas, o visitante encontra relógios apontando a hora de diferentes fusos horários, inclusive o horário de Brasília. Lá podem ser vistos modelos de relógios que são uma verdadeira obra de arte, construídos em diversos lugares do mundo e em várias épocas. Mas um dos destaques é da próprio região: o relógio astronômico, construído em 1787 por um monge beneditano da Abadia de São Pedro, que fica na Floresta Negra. O aparelho indica as horas e também a posição do sol e da lua.

Ainda hoje, estes relógios são esculturados artesanalmente em madeira (principalmente carvalho). Em suas máquinas, a mesma tecnologia empregada no século 17, com mecanismos totalmente em bronze (não enferruja) e funcionamento através de pesos. Além do som do cuco, muito deles possuem músicas e movimentos, tornando esta arte ainda mais encantadora.
Muitas pessoas relatam histórias de relógios cucos que atravessaram gerações, pertencentes a seus avós ou bisavós, tendo a mesma precisão e funcionamento ao longo dos anos.
Estes relógios têm a difícil missão de resgatar conceitos antigamente muito valorizados, como o trabalho artesanal, a relação com a natureza, a união familiar, e principalmente, conservar esta tradição e cultura em meio ao desenvolvimento tecnológico sobrenatural em que vivemos.

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Outra versão encontrada: A História do Relógio Cuco Alemão.

“Chegar a tempo”, “perdendo tempo”, “arranjar tempo”, e “não ter tempo suficiente” são apenas alguns aspectos de nossa vida diária. Algo que poucos param pra pensar. Manter o controle sobre o tempo e encontrar uma maneira confiável de medir a sua passagem tem uma história longa e fascinante.Os relógios como conhecemos hoje não existiam até o ano de 1500, quando Peter Henlein inventou o primeiro relógio movido por mola em espiral na Alemanha. Este foi um grande avanço na pontualidade, pois até esse momento os relógios eram muito grandes para poder abrigar os grandes mecanismos necessários para seu funcionamento. O mecanismo movido por mola de Henlein era pequeno o suficiente para ser colocado sobre uma mesa, no entanto, não eram muito precisos. Somente a partir de 1656, quando Christian Huygens incrementou o relógio com o pêndulo, é que foi possível a adoção do ponteiro dos minutos para manter a noção do tempo mais precisa.

 

Peter Henlein (foto 1) e Christian Huygens (foto 2)

Foi nessa época que o relógio cuco fez sua primeira aparição no mundo da relojoaria. O pioneiro dos relógios cuco estava concebido na verdade desde 1620, várias décadas antes da invenção do relógio de pêndulo, porém numa forma mais primitiva com engrenagens de madeira e pedras como pesos. O berço do famoso relógio cuco alemão é a região da Floresta Negra, no sudoeste da Alemanha em torno de 1730. Durante os longos meses de inverno os moradores das vilas da região ficavam isolados pelas grandes nevascas que tornavam as viagens para fora quase impossíveis. Como resultado começaram uma variedade de “negócios de inverno” como os também famosos cristais e vidros da região, além da fabricação de relógios. Eles faziam seus produtos de forma artesanal durante o inverno e os vendiam no verão e com o passar dos anos a atividade se desenvolveu ao ponto de se tornar uma indústria lucrativa e famosa no mundo todo.

O verdadeiro inventor do relógio cuco tendo um pêndulo como regulador é tema ainda muito debatido pelos estudiosos da área e nenhuma resposta definitiva parece ter sido encontrada.

 

No entanto, um dos mais famosos “pais” do relógio cuco alemão é Franz Anton Ketterer. Este mestre relojoeiro da vila de Schönwald na Floresta Negra, é conhecido por ter inventado a tecnologia utilizada para criar o som do cuco chilreando (cantando). Utilizando um sistema de dois foles e pequenos tubos o som característico “cu-co” do relógio foi desenvolvido. Dois tubos pequenos são anexados ao topo de dois foles de ar que acionados alternadamente imitam as notas altas e baixas do assobio campal do pássaro cuco. No completar de cada hora o mecanismo que é acionado por pesos de ferro libera o pássaro. Este movimento também aciona os foles de forma sincronizada com um gongo que toca o número de horas cheias. A partir deste momento o Relógio Cuco tornou-se sinônimo de medição do tempo com arte e beleza.

 

Relojoeiros da região da Floresta Negra começaram a desenvolver individualmente seus próprios estilos e características, mas dois estilos principais se estabeleceram ao longo dos anos. O relógio cuco “enquadrado” usava uma moldura de madeira para cercar um amplo cenário pintado com cores brilhantes dentro. Cenas típicas da Floresta Negra foram recriadas dentro deste estilo de relógio com o pássaro cuco sendo colocado em algum lugar no topo da cena esculpida e pintada. Outros componentes podiam ser incluídos como rodas d’água, crianças brincando ou animais correndo. O estilo “casa ferroviária” foi feito para parecer como uma típica construção da região da Floresta Negra, com seu telhado pontudo e forma quadrada. A frente deste relógio cuco costumava ser decorada com folhas de hera entalhadas à mão, flores ou outros animais selvagens e o pássaro cuco ficava escondido atrás de uma porta do tipo alçapão no alto, só aparecendo no soar da hora. O que se queria era imitar as típicas estações de trem que ficavam em cada paragem ferroviária alemã na época.

 

 

Hoje, o cuco estilo “casa ferroviária” ou “Bahnhäusleform” é o mais popular cuco da Floresta Negra (Schwarzwald em alemão). Embora os tradicionais relógios cuco alemães sejam equipados com mecanismos de peso e pêndulo hoje existem modelos movidos a pilha e com o som do cuco digitalizado. Os relógios cuco são feitos basicamente da mesma maneira há 300 anos. Naturalmente que as peças dos mecanismos são feitas por máquinas modernas e em tempo mínimo, porém a confecção da caixa é basicamente a mesma e merece um parágrafo em especial. Todos os relógios cuco alemães são feitos com madeiras nativas características da região, particularmente Nogueira e Tília. Essas madeiras precisam ser envelhecidas por dois anos antes de serem trabalhadas e entalhadas. Cada designer de relógio cuco deve primeiro determinar qual o estilo ou a cena que estará criando para cada cuco que constrói. Certos modelos tradicionais têm sido usados por determinadas famílias de relojoeiros por vários séculos a ponto de se poder identificar o fabricante do relógio por certas particularidades e estilo dos entalhes.

 

A variedade dos relógios cuco reflete os estilos de relojoaria através dos tempos. Um relógio de 1770 deve ter um mostrador pintado com rosas e castelos. Esse era o estilo Inglês da época, mas foi popularizado em todo sul da Alemanha e Europa central. Logo depois a decoração foi modificada para atingir cada mercado consumidor especificamente. Por exemplo, os Franceses gostavam de grandes buquês de flores em cores vivas e chamavam os relógios cucos de “Swiss Clocks” (Relógios suíços), muito embora a grande maioria fosse fabricada na Alemanha. Os escandinavos preferiam faces hexagonais ou octogonais, enquanto os Belgas e Holanedeses gostavam de mostradores em porcelana. Na Inglaterra esses relógios foram chamados de “Dutch clocks”, possivelmente derivado de “Deutsch” (Alemão) e eram feitos de ripas de mogno com vidros sustentados por perfis de bronze.

 

A partir de meados do século XVIII os cucos passam da fabricação caseira para as indústrias e em 1850 um estilo chamado “cabana de caça” ou “chalé” passou a dominar o mercado. Nesse modelo um chalé servia de base para o relógio e o mostrador ficava no telhado. Animais e árvores entalhados em madeira sobrepunham ou cercavam o mostrador. Os mecanismos se padronizaram em tamanho e materiais de maneira onde os europeus eram feitos de aço e bronze e os americanos de bronze. Os numerais dos mostradores eram pintados em estilo gótico alemão. Os relógios cuco modernos já tinham seus pesos em forma de pinha e alguns relógios grandes do final do século XIX traziam barômetros embutidos. Mais tarde, já no século XX, os cucos apresentavam seu corpo de madeira, os mecanismos em bronze e o pássaro esculpido em madeira numa plataforma basculante que se projetava para fora do relógio ao soar das horas cheias.

 

De fato esse tipo de relógio é o “souvenir” preferido dos turistas em viagem à Alemanha (meu caso) e região e não importa o modelo, mas sim a grande história de tradição familiar que agrega ao ambiente em que se pode apreciar essa obra de arte.

Fontes:
– Bruton, Eric. The History of Clocks and Watches. New York: Rizzoli International Publications, Inc., 1979. 
– Coggins, Frank W. Clocks: Construction, Maintenance & Repair. Blue Ridge Summit, PA: TAB Books, Inc., 1984. 
– Fleet, Simon. Clocks. London: Octopus Books, Inc., 1972. 
– Hunter, John. Clocks: An Illustrated History of Timepieces. New York: Crescent Books, 1991. 
– Kadar, Wayne Louis. Clock Making for the Woodworker. Blue Ridge Summit, PA: TAB Books, Inc., 1984. 
– Lloyd, H. Allan. The Complete Book of Old Clocks. New York: G. P. Putnam’s Sons, 1964. 
– Nicholls, Andrew. Clocks in Color. New York: Macmillan Publishing Co., Inc., 1975. 
– Smith, Alan. The Antique Collector’s Guides: Clocks and Watches. New York: Crescent Books, 1989. 
– Tyler, E. J. European Clocks. New York: Hawthorne Books, Inc., 1969. 
– Gillian S. Holmes

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