
Por Jean de Menezes Severo
Fala meu povo, saudades de vocês! Como é bom realizar esta parceria com o Canal Ciências Criminais: realmente modificou minha vida pessoal e profissional para melhor, fico contando os dias para escrever a próxima coluna. Agradeço a esta oportunidade. Obrigado aos amigos leitores. Hoje vamos falar do poder da amizade, ou, para ser mais específico, da amizade entre advogado e cliente.
Em uma das minhas colunas anteriores, expliquei a importância de o advogado conduzir com ética e responsabilidade a sua relação profissional com o constituinte, a relevância de não misturar a sua atividade com a do cliente; mas muito me perguntam: é possível surgir uma amizade verdadeira entre advogado e o defendido? Ou deste só ficam os honorários? Minha resposta é SIM, é possível surgir uma amizade sincera entre advogado e cliente!
Se escuta muito, sobretudo nos bancos acadêmicos, que não devemos manter vínculos afetivos e de amizade com os defendidos por nós, principalmente na advocacia criminal. Há um estigma, um “pré-conceito” presente entre os profissionais do Direito, de que o cliente criminal não é confiável e pode ser um cara perigoso.
Nunca se deve esquecer: aquela pessoa acusada é um ser humano com acertos e erros, alguém capaz de realizar coisas boas e ruins, e, nesse enfoque, nem melhor, nem pior do que outros. Essa é uma boa reflexão para nós advogados, que também possuímos defeitos e devemos escutar atentamente a história de vida de cada cliente, para bem defendê-lo, tendo a humildade como nossa parceira constante.
Preparem-se, amigos acadêmicos, para escutar histórias tristes de abandono, sofrimento e dor. Não julguem seus clientes pelos crimes que cometeram; aliás, nunca julguem seus clientes, pois sua função é defendê-los com força, com humanidade e conhecimento dos autos, oferecendo sempre o máximo, e assim vocês ganharão amigos.
Não esqueça, estudante, todos já estão julgando seu cliente e lhe proferindo vereditos, ele só terá a você, quando advogado, como fonte de esperança. Ele assinou a procuração e, nesse exato momento, está anestesiado. Você, advogado, é seu cirurgião. Aí está a beleza da advocacia!
Confesso que fiz amizade com muitos clientes nesta jornada como advogado criminalista, pois os defendi com a alma e lhes ofereci minha melhor defesa. Honorários são importantes; mas um sorriso, uma lágrima, um abraço de agradecimento ultrapassam o valor do dinheiro. Não esqueça, estudante, dinheiro é consequência de trabalho árduo.
Encerro a coluna de hoje com este poema de Silvio Brito aos parceiros do escritório, da faculdade, ou de qualquer lugar, bem como a todos que já defendi. Todos que fazem parte da minha vida são tesouros mandados por Deus:
“Amigo não tem dia, não tem hora, amigo é sempre agora
Amigo não tem jeito faz morada dentro do peito pela vida a fora
Por um amigo se põe a mão no fogo sem receio de nenhuma dor
Amigos são parceiros de um jogo onde não há perdedor
Amigo é feito agulha no palheiro
É meio a meio e os dois inteiros
Amigo é sincero dá de 10 a zero na força do poder e do dinheiro
Amigo é aquele que nos representa em qualquer lugar
A gente estando ou não estando lá
Aliás, é como se a gente estivesse lá na figura do amigo
E é por isso que se diz que é difícil ser amigo
Pois ser amigo não é fácil não
E é por isso que se diz que lealdade não tem preço
E que amizade é o avesso da solidão
Em tempos tão doentes de amores tão distantes
Amigo é uma espécie de transplante de coração
Amigo é feito um pai que se adota feito um filho
É o Espírito Santo um Anjo Guardião.”
Dedico esta coluna aos amigos-clientes que fiz neste mundo de meu Deus. Muitos não são mais clientes, mas, pela gratidão que nutrem, sei que posso contar com eles. Tenho amizade inclusive com presos reclusos e sei que estão “por mim”. Eles possuem histórias de vida extraordinárias, na maioria das vezes tristes, mas quem falou que viver é só alegria? A vida é feita também de infelicidades. Para mim, quero só uma vida: a advocacia. Amo o que faço. Contudo, se existirem outras vidas, espero novamente vir advogado, sempre e sempre, defendendo a liberdade daqueles que, pelos casos e descasos, em algum momento perderam sua voz.