As ameaças para a humanidade provindas do maltrato à natureza decorrem da insensatez da única espécie que se considera provida de razão. Até mesmo os mais céticos se convenceram de que as mutações climáticas afetarão profundamente a vida no Planeta. Todavia, predomina o discurso de exagerado antropocentrismo, como se o homem pudesse viver desvinculado de outras formas de vida e como se fosse exterior à natureza.
O Brasil experimentou significativo retrocesso em sua profissão de fé ecológica. Depois de um texto constitucional elogiado por todo o mundo civilizado, começou a marcha-a-ré em todos os sentidos, até mesmo principiológicos. Testemunho manifesto desse atraso a revogação do Código Florestal.
Mas a natureza não ficou órfã. Ainda há pouco, o Cardeal Peter Turkson ressaltou que cuidar da natureza é inseparável do cuidado com os pobres. Afirmou: “Compelidos pelas evidências científicas sobre mudança climática, somos chamados a cuidar da humanidade e respeitar a gramática da natureza como virtudes por seu próprio direito“.
Nascido em Gana, o Cardeal Turkson foi um dos “papáveis” quando da renúncia de Bento XVI e preparou um documento que se transformará em Encíclica de Francisco. O Papa corajoso, que deixa perplexos os rançosos, que ainda não saíram das catacumbas e preferem um Deus Corregedor em lugar de um Deus-Mãe, reforçará o time dos ecologistas, considerados folclóricos por aqueles que só pensam em extrair do ambiente, de forma inclemente, aquilo que nunca devolvem a ela.
De forma direta como costuma se comunicar, Francisco já chegou a declarar: “Não sei se a atividade humana é a única causa, mas principalmente, em grande parte, é o homem que esbofeteou o rosto da natureza“.
Retoma-se a tradição do Gênesis: o Jardim do Éden foi confiado ao homem para guardá-lo e conservá-lo. Francisco faz jus ao Poverello de Assis, santo ecologista, protetor de uma natureza que chamava de “irmã”.
Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 30/04/2015
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
