Antigamente – sou de antigamente… – o dia 1º de abril era considerado “o dia da mentira”. Ingênuas as brincadeiras que então eram usuais. “Sabe quem morreu?” “O Presidente da República foi deposto!”. E tantas outras inocentes tentativas de causar perplexidade, logo seguidas de “É mentirinha!”. Tempos incríveis. Hoje a coisa é diferente. O que parece mentira, infelizmente é verdade. Parece que a população já perdeu a capacidade de se surpreender. O exagero nos escândalos, nos descalabros, no deboche e no acinte, o abuso e a desfaçatez com que são praticados malfeitos de toda a ordem, edificam um quadro surrealista. Preferíamos que tudo fosse inverdade. Mente-se muito, mente-se até descaradamente. E com tanta convicção, que aos olhos de quem ouve, parece que o pronunciamento traduz a mais límpida verdade. Verdade que o conceito de verdade e mentira é polêmico e nebuloso. Cristo perguntou a Pilatos: “O que é a verdade?”. E não recebeu resposta. Há quem sustente que há tantas verdades quantos os focos de visão de quem observa. Cada olho interior, o ângulo de análise da consciência, enxerga de uma forma. O egoísmo também nos faz enxergar o que queremos ver. Moldamos o que é aparentemente objetivo, de acordo com o nosso subjetivismo. Conforme a deformação de nossa vontade. Como seria bom, de qualquer maneira,se voltássemos ao tempo em que a mentira tinha um dia especial e servia a lúdicos e simplórios jogos entre amigos. Hoje, todo o dia é dia de mentira… Precisamos inventar um “dia da verdade”. Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 02/04/2015 |