O tsunami de desânimo que acomete as pessoas de bem diante das reiteradas denúncias de descalabros com o dinheiro do povo é corrosivo do idealismo. Quando os de cima não dão bom exemplo, os de baixo sentem-se desmotivados a perseverar. Isso é mau para o élan nacional. Por isso é que nos momentos de desalento, a lucidez necessita coragem para redescobrir trilhas de revigoramento dos valores. Já fomos melhores. A escola pública era um celeiro de civismo. Ensinava-se patriotismo, civilidade, bons modos. Aperfeiçoava-se aquilo que já se aprendia em casa, com os pais responsáveis pelo treino social da prole. A escola do olhar, da admoestação velada ou mesmo da palmada surtiam efeito. Chegava-se à maturidade em seguida a uma juventude consciente do significado do cumprimento do dever. Hoje essas palavras perderam intensidade. Quem se considera patriota? Quem é que confere relevância ao conceito de “educação moral e cívica”? Tudo se resume a uma educação séria e consistente. Não escolarização, que há eruditos mal educados. Assim como pessoas que nunca ingressaram numa escola e integram uma elite natural. Nasceram intrinsecamente bons. É possível ensinar alguém a ser bom? A ser generoso, solidário, exercer a fraternidade no dia a dia? Recorramos a Paulo Freire: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da igualdade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. Encarná-la diminuindo assim a distância entre o que dizemos e o que fazemos“. Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 26/03/2015 |